Aparentemente, fumaça e barulho são símbolos de luxo – ao menos é o que parece acreditar a indústria. Depois da Porsche ter anunciado um recuo nos seus planos para veículos elétricos (VEs), a Bentley segue a mesma linha, estendendo a vida útil dos seus motores de combustão interna (MCI) até à década de 2030.

Esta decisão, confirmada pelo novo CEO da Bentley, Frank-Steffen Walliser, reflete a realidade do mercado, que tem demonstrado uma procura irregular por VEs e os elevados custos associados à transição. Ambas as marcas, parte do Grupo Volkswagen, estão a ajustar as suas estratégias para encontrar um equilíbrio entre a inovação e as “preferências dos consumidores”.
A Porsche deu partido ontem, anunciando um novo foco em modelos com motores de combustão interna. A decisão surge após o desempenho abaixo das expectativas do seu modelo elétrico Taycan, cujas vendas caíram 49% em 2024. A empresa promete agora novos modelos a ICE até ao final da próxima década, incluindo o “Super SUV” K1, que terá opções de motor a combustão e híbrido plug-in. Esta mudança de direção, que inclui a interrupção do desenvolvimento da plataforma SSP 61 para VEs.
A Bentley também decidiu adiar a sua meta de se tornar uma marca totalmente elétrica. O plano original de ser 100% elétrica até 2030, já revisto para 2035, foi mais uma vez modificado. Agora, a empresa irá continuar a produzir modelos a combustão e híbridos plug-in dos seus principais carros, como o Continental GT, Flying Spur e Bentayga. A marca de luxo britânica acredita que esta abordagem permite “equilibrar a tradição e a inovação” garantindo que os clientes de luxo continuam a ter a “escolha que desejam”.
Ambos os fabricantes afirmam que continuarão a investir em EVs e pretendem lançar os seus primeiros modelos elétricos puros nos próximos anos, mas investem no que parece ser o gosto conservador dos consumidores de luxo. E não é implausível que essas escolhas acabem por fazer sentido financeiramente: quando a eletrificação passa a ser a opção mais econômica, o luxo conpíscuo passa a ser se manter no passado (e dar aquela socializada marota nos prejuízos).