Lula anda com EVs de 2025, mas sua visão sobre o petróleo continua no século passado

Achar que petróleo é um bom investimento em 2025 é um tipo menor de negacionismo climático – mas é negacionismo

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Publicado em: 19 de setembro de 2025

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Editado em: 19 de setembro de 2025 06:09

Ontem, a GM e a WEG anunciaram novas parcerias com o Palácio do Planalto. A montadora sediada em São Caetano do Sul irá fornecer 4 SUVs Chevrolet Blazer EV para o comboio presidencial em regime do comodato, enquanto a indústria catarinense de materiais elétricos instalou três carregadores (dois convencionais e um rápido) na residência oficial do presidente. O vice-presidente Geraldo Alckmin também poderá fazer uso das facilidades.

Lula posa com o executivo Fábio Rua, vice-presidente da General Motors América do Sul, e um carro Chevrolet Blazer EV, e um carregador WEG
Lula com o executivo da GM Fábio Rua | GM / Divulgação

As empresas celebraram a ação como um avanço na transição energética. Em comunicado oficial, Fabio Rua, vice-presidente da General Motors América do Sul, afirmou: “A incorporação do Blazer EV à frota oficial da Presidência reforça o avanço da eletrificação no Brasil(…) Seguimos avançando na estratégia de liderar a transição para uma mobilidade de baixo carbono, alinhada à meta global da GM de neutralizar as emissões até 2040’’. Por seu lado, Carlos José Bastos Grillo, Diretor Superintendente de Digital e Sistemas da WEG, disse: “A WEG tem orgulho de contribuir com soluções que aceleram a transição energética no Brasil. Esse projeto conjunto com a GM e a instalação dos carregadores no Palácio do Planalto reforçam nosso compromisso com a mobilidade elétrica e com a construção de um futuro mais eficiente e sustentável”.

Lula já estava fazendo uso de veículos elétricos (da BYD) desde 2024, celebrando a instalação da fábrica na Bahia. E, ainda que ação das empresas e da presidência seja repleta de louvável valor simbólico, as falas do presidente no mesmo dia trazem um paradoxo que precisa ser resolvido.

Em entrevista à BBC, Lula defendeu a exploração do petróleo na Amazônia. E, se o presidente circula em veículos de 2025, nesse ponto sua cabeça parece estar na época da Crise do Petróleo de 1973.

Negacionismo pequeno

“Eu quero saber qual é o país do planeta que está preparado para ter uma transição energética capaz de abdicar do combustível fóssil”, afirmou, ao ser perguntado sobre a prospecção de petróleo na Margem Equatorial, na foz do Rio Amazonas, acrescentando que é “totalmente a favor” da transição energética, mas que “é preciso saber qual a necessidade de cada país”.

(Caro presidente: se nada mudar, o Brasil deve se tornar parcialmente inabitável em 50 anos; essa é a nossa necessidade nacional: estar na vanguarda do combate à crise climática e não passar mensagens ambíguas.)

Ainda que seja inegável que a posição do governo atual consista em um progresso civilizacional em relação àquela do governo anterior – de um negacionismo cru, que parecia ver na Amazônia um espaço ocioso esperando o correntão da ordem e progresso – ela ainda contém um componente de negacionismo climático.

Vamos chamar à posição adotada pelo governo Bolsonaro e a extrema direita mundial de negacionismo grande (ou quem sabe negacionismo ativo)– a ideia de que o aquecimento global é uma invenção criada por conspiradores pagos por George Soros ou quem o valha para acabar com o Ocidente. Ou também que é natural. Ou ainda, como tem se tornado mais comum, que é já é tarde demais, não há nada o que se fazer, e o último que sair apague a luz.

Lula comete o que podemos chamar de negacionismo pequeno (ou passivo). Esse é quando alguém, mesmo reconhecendo o risco existencial da crise climática, ainda age como se ela fosse uma preocupação abstrata, nas planilhas dos cientistas, achando que tudo deve continuar mais ou menos como está no futuro próximo. Esse negacionismo não nega o aquecimento global, mas nega a realidade de suas consequências e o tempo em que elas virão.

Investimento em carroças

A aposta de Lula se baseia na convicção de que o país investir em petróleo em 2025 é um bom negócio, de longo prazo, e que seu custo ambiental e para a imagem do Brasil será menor que os percebidos benefícios.

Isso depende necessariamente de se acreditar que o petróleo manterá seu valor econômico e estratégico nas próximas décadas – e não que iremos acabar literais montanhas de sucata poluída feitas para explorar um recurso obsoleto.

Vítima da enchente do Rio Grande do Sul em 2024 anda por rua alagada
Vítima da enchente do Rio Grande do Sul em 2024 anda por rua alagada | Bruno Peres / Agência Brasil

Achar que o petróleo vai seguir como está é falhar em enxergar as consequências na opinião pública, na geopolítica e na economia mundiais da crise climática. Negar que a destruição dará uma urgência crescente à transição – e que a transição levará a uma queda exponencial na demanda pelo petróleo (e outra palavra aqui: microplásticos). Negar que investir em petróleo hoje não é muito diferente de investir em carroças e ferraduras em 1920.

E, talvez mais perigoso ainda, é negar as consequências políticas de pessoas perdendo suas casas, suas famílias, seus negócios, sua segurança alimentar. Que essas pessoas acabarão exigindo uma explicação. E que essa explicação terá, como já tem hoje, um lado político: ou elas se revoltam com a crise climática e aderem a seu combate ou caem em fantasias fabricadas e financiadas pelos interessados em manter seus investimentos até o fim do mundo.

Subir em cima desse muro é dar votos ao partido do apocalipse.

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