Quando a gente fala em razões para comprar um carro elétrico, enfrentar a mudança climática é uma causa frequentemente citada. Mas a realidade pura e crua é que o idealismo das pessoas vai até onde seu bolso alcança. Entre todos os profissionais brasileiros, ninguém iria chamar o motorista de aplicativo médio de idealista – mas é esse profissional que parece estar ocupando o lugar de vanguarda da eletrificação.
Simplesmente porque a matemática incentiva a isso neste momento. Carros elétricos, que já não são caros quanto costumavam ser até bem pouco tempo atrás, acabam compensando o investimento com economias de combustível e manutenção. A startup Joy Energy colheu um relato – ou case study, como se diz em corporativês – que ilustra bem essa ideia. A empresa é uma franquia de eletropostos que conta também com uma frota própria de veículos, fundada em 2024 em Santa Catarina.
O motorista João Costa há três anos trabalha com plataformas de transporte e diz que viu seu lucro real aumentar em cerca de 60% após alugar um veículo elétrico para trabalhar. Até 2023, João utilizava um carro a combustão, enfrentando custos mensais que consumiam grande parte de seu faturamento. “Eu gastava entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil por mês só com combustível, fora a manutenção constante: troca de óleo a cada um mês e meio, filtros, pneus a cada três ou quatro meses. No fim do mês, sobrava pouco, era desanimador”, relata João.
A mudança veio com a opção de aluguel de um carro elétrico da rede catarinense. Em poucos meses, João Costa observou uma economia mensal próxima de R$ 2 mil, que se traduziu no aumento de 60% no lucro. “Hoje meu único custo é o aluguel do carro. Ganho tranquilidade, consigo aceitar corridas menores que antes não compensavam e ainda trabalho com o ar-condicionado ligado o dia todo, sem medo de gastar demais.”
A estabilidade financeira proporcionada pela margem de economia permitiu um melhor planejamento mensal. “Agora consigo planejar melhor o mês, não preciso ficar correndo atrás de posto mais barato nem me preocupar com manutenção de motor. É outra vida.”
Questionado se voltaria ao carro a combustão, João é categórico: “Para trabalhar em aplicativo, não voltaria nunca. O custo-benefício não compensa. Talvez para uso pessoal em viagens longas, por causa da rede de recarga ainda limitada em algumas cidades. Mas para o trabalho, não troco o elétrico de jeito nenhum.”
Contrariando figuras na própria indústria, Jonathan da Silva, CEO da Joy Energy, diz que a eletrificação é um caminho sem volta: “Quem migra, não volta para o carro a combustão. A eletrificação vai ocupar entre 30% e 50% do mercado brasileiro na próxima década.”