A Tesla, um dia pioneira e líder no mercado de veículos elétricos nos Estados Unidos, está perdendo sua dominância em casa. Dados recentes da pela Cox Automotive divulgados pela agência de notícias Reuters revelam que a participação da montadora no mercado dos EUA caiu para 38% em agosto. Essa é a primeira vez em quase oito anos que a empresa fica abaixo da marca de 40%, um declínio significativo em relação aos seus dias de glória, quando controlava mais de 80% do mercado.
No relatório, especialistas apontam a linha de produtos da Tesla como cansada no gosto do consumidor – especialmente o Model 3 e o Model Y, que, apesar de ligeiras atualizações de estilo em 2023 e 2025, não tem o mesmo impacto que a marca costumava causar no passado. A última grande novidade da empresa, a picape Cybertruck, foi um produto que dividiu opiniões (sendo generoso) e seus resultados ficaram muito aquém do esperado.
Além da estagnação da linha de produtos, a concorrência está se tornando cada vez mais agressiva. Marcas como BYD, Hyundai, Honda, Kia e Toyota têm atraído consumidores com veículos que combinam tecnologia, design e, crucialmente, preços competitivos. As vendas de EVs dessas montadoras dispararam entre 60% e 120% em julho, superando em muito o crescimento de 7% da Tesla no mesmo período. A falta de novos lançamentos da Tesla, somada à abordagem de focar em projetos especulativos e fora do interesse do consumidor comum, como robotáxis, deixa a empresa vulnerável diante dessa pressão.
Posições contraditórias
“Entendo que eles estejam se posicionando como uma empresa de IA e robótica” afirma Stephanie Valdez Streaty, diretora de insights da indústria da Cox, à Reuters. “Mas quando você é uma empresa de carros e não tem novos produtos, sua fatia de mercado começa a cair.”
O cenário é de crescente pressão financeira para a Tesla, que tem sido forçada a escolher entre manter sua lucratividade e sacrificar sua participação de mercado ou cortar preços para impulsionar as vendas. A situação é perigosa, pois os cortes de preços recentes já reduziram as margens de lucro da empresa. Com o fim de um importante crédito fiscal federal nos EUA em setembro, a expectativa é que a pressão sobre as vendas de EVs impacte a todas as montadoras. A Tesla, apesar da recente proximidade de seu CEO com o governo federal do país, não é exceção.
Falando no que, as posições políticas ostensivas de Elon Musk, e sua associação com Donald Trump, não tem feito favores à Tesla. A lealdade dos proprietários à marca caiu de 73% no ano passado para 49,9% em março deste ano, numa queda sem precedentes na indústria, no que foi apontado como consequência direta da impopularidade das visões políticas de Musk em meio aos proprietários de carros elétricos.
A Tesla pode, de fato, deixar de ser uma fábrica de carros, como apregoa seu criador. Mas, enquanto isso não se concretiza, as decisões de sua administração têm posto em questão cada dia mais seu lugar como uma marca que representa a vanguarda da indústria automotiva.