Você conhece Martin Eberhard e Marc Tarpenning, ou já ouviu falar dos seus nomes? Muito provavelmente não, mas os dois foram os fundadores e idealizadores da Tesla. A empresa, fundada em 2003, foi batizada com esse nome em memória do genial inventor e engenheiro elétrico Nikola Tesla, e não, isso não foi uma ideia do Elon Musk.
Só que quem inventou o conceito de um esportivo elétrico, leve e ultra rápido, não foi nenhum dos fundadores da Tesla, e sim outra pessoa, Tom Gage, presidente da AC Propulsion. Seu pequeno e chamativo carro elétrico ia de 0 a 100 km/h em menos de 4 segundos, deixando os carros esportivos mais rápidos (e caros) do mundo para trás.
Em 1997, muitos anos antes da Tesla, a AC Propulsion criou o tzero, ou “To”, símbolo matemático que indica o início do tempo em um sistema. O grande destaque do protótipo amarelo, feito no chassis do kit de carros Piontek Sportech e do qual foram fabricadas só três unidades, era a sua aceleração.
A dupla dinâmica que foi de um leitor de ebooks aos carros elétricos
Martin Eberhard e Marc Tarpenning, passaram de amigos que jogavam Magic: The Gathering juntos, para fazerem consultoria juntos, e muitas vezes trabalharam juntos em cafeterias a partir dos seus celulares, laptops e PalmPilots, com todas as suas limitações. Não por acaso, os dois começaram a pensar na eficiência energética das baterias.
Tarpenning chamou a evolução das baterias de “Lei lenta de Moore”, na qual ao invés de dobrar de poder de processamento em 18 meses, as baterias duravam de capacidade a cada 10 anos.” Em pouco tempo, os amigos viraram sócios e empreendedores, e pensaram em criar uma empresa com algo mobile, que precisasse de baterias. Agora sócios, os amigos criaram sua primeira empresa juntos, a NuvoMedia, e lançaram em 1998 seu primeiro produto, o Rocket eBook, um leitor de eBooks.
A NuvoMedia foi vendida em 2000 por US$ 187 milhões, e Eberhard, agora milionário, se separou, e começou a pensar em comprar um carro esportivo, mas não queria comprar um movido a gasolina, afinal, a guerra do Golfo estava em andamento, e ele ficava incomodado em contribuir para a indústria dos carros a combustão. Um carro esportivo elétrico era um conceito que simplesmente não existia, mas que passou pela sua cabeça.
O primeiro carro elétrico esportivo
Falando de carros elétricos, muitos jornalistas e a própria Tarpenning percebeu que a indústria automotiva estava ignorando que baterias de íons de lítio seguem avançando, e poderiam ser a solução para criar um carro totalmente elétrico. Em seus cálculos, na comparação com outros tipos de combustível, ele viu que um carro movido a baterias seria a opção menos nociva ao meio ambiente.
Os dois descobriram então que a indústria automobilística tinha mudado nos últimos 20, 30 anos, e agora terceirizava praticamente tudo nos carros, menos o motor. Nas palavras de Tarpenning, “a indústria de carros tinha se reformatado completamente. Nenhuma empresa de carros faz mais para-brisas. Eles sempre os compram dos fabricantes de para-brisas, e os espelhos retrovisores são comprados dos fabricantes de retrovisores”.
Assim, ao contrário do que aconteceu com outros criadores de carros como DeLorean ou Tucker, 20 anos atrás a realidade já era outra. Você poderia simplesmente só comprar as partes que precisa e montar o seu carro. E aí estamos falando até mesmo da carroceria.
AC Propulsion e o tzero
Em suas pesquisas, ele encontrou a AC Propulsion, e ao investir na empresa, em pouco tempo, convenceu Tom Gage a deixar um dos protótipos do tzero com ele. Usando o carro durante um mês, Tarpenning ficou convencido de que aquele poderia ser um produto comercial de grande apelo.
A dupla pensou em comprar a AC Propulsion, mas a empresa não queria passar por um processo de aquisição, e assim, eles combinaram em um licenciamento da tecnologia. Não muito tempo depois, Elon Musk ouviu falar na AC Propulsion, andou em um tzero, e passou pelo mesmo processo.
Fundador e CEO da Tesla, Eberhard estava diante de uma missão complicada, criar um carro totalmente novo, usando um conceito bem diferente do AC Propulsion, que era rápido, mas muito pouco prático, e menos ainda seguro. Suas baterias de chumbo-ácido ficavam posicionadas nas laterais onde ficariam as portas, o que não só fazia seus usuários entrarem e saírem do carro pela janela, mas também tornava qualquer acidente potencialmente trágico.
Além disso, o tzero também não lidava bem com chuvas, já que tinha um computador que ficava desprotegido das intempéries. O caminho era claro, um novo modelo, feito pela nova empresa da dupla, a Tesla, que usaria baterias de íons de lítio, que ficariam no assoalho da carroceria, e não mais nas portas, e teria o design de um carro esportivo clássico.
A Tesla sob nova direção
No ano seguinte, em 2004, Elon Musk entrou na sociedade já na primeira rodada de investimentos, tirando do seu bolso metade dos US$ 60 milhões levantados pela empresa. Em novembro daquele ano, foi construído o primeiro protótipo no chassis do Lotus Elise, com controles eletrônicos, motor elétrico e pack de baterias projetado pelo engenheiro JB Straubel, que na época era o CTO da Tesla, e teve o privilégio de dar a primeira volta pilotando o protótipo.
O primeiro carro a ser lançado pela Tesla Roadster, com seu chassis Lotus, que chegou ao mercado em 2008, mesmo ano em que Musk se tornou o CEO da Tesla, substituindo Eberhard. A estratégia da empresa era clara, lançar primeiro um veículo mais caro e exclusivo, e com os lucros obtidos com ele, investir na produção de um modelo com valores mais acessíveis.
A história da Tesla continua, mas fica para outro post.