A Ferrari divulgou as especificações técnicas de seu primeiro carro 100% elétrico, o Elettrica (não está confirmado ainda se esse será o nome final). A apresentação técnica, realizada na sede da empresa em Maranello, na Itália, detalhou a tecnologia desenvolvida internamente, tentando traduzir para um carro elétrico a “emoção ao dirigir” da marca.
A revelação completa do design está prevista para o segundo trimestre de 2026, mas jornalistas presentes notaram que o carro altamente camuflado não parece um supercarro coupé. Fred Lambert, do electrek, acredita ter visto um sedã, ou talvez um SUV baixo. A Ferrari confirmou que o Elettrica terá quatro portas (assim, definitivamente não um supercarro de dois lugares) e que será produzida em massa (o que, pelo o histórico da Ferrari, significa entre 10 mil e 20 mil exemplares).
A potência será de mais de 1.000 cv em “modo boost”. 0 a 100 km/h em 2,5 segundos. Máxima de 310 km/h. Mais de 530 km de autonomia, graças a uma bateria de 122 kWh. Trem de força quad-motor e arquitetura de 880V, com potência máxima de recarga de 350 kW.
A empresa afirma que desenvolveu e está produzindo quase todo o powertrain internamente, incluindo os quatro motores (com rotações de até 30.000 rpm no eixo dianteiro) e os próprios inversores de potência (a parte que converte a corrente contínua da bateira para corrente alternada).
A Ferrari não divulgou o aspecto exterior do carro, mas mostrou o chassi com os mecanismos diversos em ação:
Ferrari guitarra elettrica
O aspecto mais chamativo, com a promessa de conquistar fãs mais tradicionalistas, é a abordagem da Ferrari em relação ao ruído do carro (que seria, em se tratando de um BEV, inexistente). A empresa rejeitou tentar criar um som de motor a combustão interna sintético, como outros fabricante têm feito. No lugar disso, está dando um jeito de criar um ruído natural, se amplificado, para o motor elétrico.
A solução, apelidada de abordagem de “guitarra elétrica”, envolve um acelerômetro de alta precisão instalado no inversor do eixo traseiro capta as frequências e vibrações reais do motor elétrico. Essas vibrações são então amplificadas e projetadas para o ambiente externo, de forma análoga a um como um captador de guitarra elétrica transforma a vibração acústica natural em eletricidade, enviando ao amplificador.
A Ferrari diz que o som será usado apenas quando “funcionalmente útil”, sendo ativado em sincronia com os comandos do motorista, como ao acelerar ou usar as aletas de câmbio no modo manual (sim, o Elettrica também terá um modo manual). A ideia é proporcionar ao condutor um feedback sensorial autêntico sobre o torque e o estado do motor.
Antonio Palermo, chefe de NVH (ruído, vibração e aspereza) e qualidade de som da marca, afirmou que levou tempo para que a empresa chegasse a um consenso interno, mas que a escolha pela autenticidade foi clara. A Ferrari acredita que esta estratégia demonstra que um powertrain elétrico pode ser emocionalmente envolvente por si só, sem precisar imitar a combustão.
Por que carros elétricos são silenciosos?
É comum que carros elétricos emitam som em baixas velocidades por questões de segurança – alertar os pedestres. Algumas legislações locais existem isso (não o Brasil, mas há o PL 4171/2023 propondo a obrigatoriedade). Esses sons são sintéticos e partem de alto-falantes – alguns, como o Fiat 500e, até tocam música. Estão lá só por obrigação.
Alguns dias atrás, tratamos com não total seriedade uma patente da Yamaha para criar um motor totalmente falso para fazer barulho de combustão interna em motos elétricas. Teria um cabeçote falso e até escapamento. E seria um desperdício de energia. Mas a ideia da Ferrari é, na verdade, inteligente – e até cool. E totalmente pró elétrica.
A razão porque carros elétricos não produzem sons como um esmeril ou liquidificador é que seus motores são selados para evitar contato com o ar, enquanto utilidades domésticas e industriais são abertas para refrigeração. Carros se movem e levantam água, lama e poeira, estaria fora de questão uma refrigeração a ar simples como nessas utilidades. No lugar disso, EVs usam sistemas de refrigeração com radiadores (não precisam de grade frontal porque são menores, mas estão lá). Mas motores de carros elétricos ainda assim produzem sons, apenas muito discretos para chegar ao motoristas ou aos pedestres.
Quem sabe a moda da guitarra elétrica cole, ajudando a enfrentar a resistência de consumidores de esportivos de luxo – que são poucos, mas influentes.
E, se colar mesmo, já vamos propor aqui: que tal um pedal de distorção? (Perdão.)