
Duas semanas após a inauguração oficial de seu complexo industrial na Bahia, o primeiro carregamento de carros nacionais da BYD deixou hoje sua fábrica, rumo ao Distrito Federal. O lote comercial é composto por 55 unidades do modelo BYD Dolphin Mini (um elétrico a bateria, BEV) todos na cor branca. Os carros são destinados às concessionárias do grupo Águia Branca em Brasília.
Para cumprir a rota, um conjunto de cinco carretas partiu de Camaçari durante a manhã, com cada carreta transportando cerca de dez carros. A viagem é uma operação logística significativa, cobrindo cerca de 1.400 quilômetros e com previsão de duração de três a quatro dias até à capital federal.
A BYD confirmou que novos carregamentos de veículos montados em Camaçari serão distribuídos no mercado nacional ainda neste mês.
Liderança ainda incontestável

O embarque dos primeiros carros montados localmente é motivo de celebração para a empresa, que se consolidou como líder no mercado brasileiro, produzindo mais de 70% dos elétricos puros vendidos no Brasil. Com 3.392 unidades, o Dolphin Mini é, de longe, o BEV mais vendido e o 5º compacto mais vendido do país.
“Estamos muito contentes em oferecer ao mercado brasileiro este primeiro conjunto de veículos montados em Camaçari. Fizemos muito em tão pouco tempo para promover a mobilidade elétrica no Brasil e isto é um motivo de enorme satisfação para nós da BYD”, afirmou Tyler Li, presidente da BYD Auto do Brasil.
A inauguração da fábrica de Camaçari, cujas obras começaram em 2024, faz parte da estratégia de expansão da BYD no Brasil, com o complexo sendo o maior da companhia fora da Ásia. A BYD atua há mais de 10 anos no Brasil, trabalhando também com componentes eletrônicos, painéis solares e soluções de armazenamento de energia.
Itaipu 150: tentativa de um BEV brasileiro
Salvo erro, a última vez em que o Brasil teve um carro elétrico puro fabricado nacionalmente foi com o Gurgel Itaipu E150, em 1975. Entre 20 e 27 unidades (o número é incerto) foram fabricadas em fase experimental, sem a produção em escala. Em 1981, a Gurgel retornou a eletricidade com o furgão Itaipu E400. Mas aí era um furgão, não um carro: em termos de veículos grandes, a própria GWM produz chassis para ônibus e caminhões há 10 anos, e trólebus só estão sendo aposentados agora.

O Itaipu E150 era folclórico comparado com a tecnologia de hoje. Tinha um motor de 3000 W/4,7 cv, equivalente a uma scooter que exige carteira. O problema era que, diferente de um scooter, ele pesava 780 kg, e a máxima do protótipo era 30 km/h (prometidos 60 km/h na versão final). A bateria, de 10,08 kWh, não era tão ruim assim – dava para 3 horas e 20 minutos de uso no consumo máximo (não havia freio regenerativo) e levava 10 horas para ser carregada.
Múltiplas propostas de BEVs brasileiros foram apresentadas, e híbridos nacionais não são novidade. Mas, depois do Itaipu bater na trave, BEV, BEV mesmo, e carro, carro mesmo, deixando a fábrica, só agora.
A exclusividade da BYD não deve durar muito: a GWM estreou sua fábrica em Iracemápolis (SP) em agosto, antes da BYD mas, por enquanto, produz apenas híbridos. Outras montadoras de elétricos chinesas – GAC, Geely e Leapmotor – também anunciaram planos para fabricar por aqui.