
Se o número de veículos na frota ainda é muito pequeno e as vendas, ainda que cresçam, continuam a constituir um nicho, o número de ofertas de veículos eletrificados no Brasil tem se ampliado muito. É o que aponta um novo levantamento da Bright Consulting, levando em conta a composição do portfólio disponível no país entre 2023 e 2025.
Segundo o levantamento, o número total de versões disponíveis entre todos os automóveis e comerciais leves oscilou para baixo, de 1.067 em 2023 para 1.038 em 2025. Mas essa aparentemente estabilidade esconde um fato interessante: a mudança na proporção dos eletrificados em comparação aos convencionais.
A principal constatação do estudo é a perda de relevância dos motores tradicionais. A participação combinada das versões com motores a combustão tradicional (Flex, Diesel e Gasolina) caiu de 75,9% em 2023 para 69,0% em 2025. Essa queda de quase 7 pontos percentuais em apenas dois anos marca uma “virada simbólica na estrutura de oferta”, segundo a Bright.
Os motores Flex, que representam a maior fatia do mercado, foram de 44,9% em 2023 para 39,9% em 2025. Enquanto isso, as versões a Diesel e a Gasolina (estas últimas, majoritariamente em veículos importados e premium) mantiveram sua participação estável.
No extremo oposto, a oferta de versões eletrificadas ultrapassa, pela primeira vez, a marca de 30% do portfólio total.
As alternativas de veículos 100% elétricos (BEV) saltaram de 7,9% em 2023 para 12% em 2025, um crescimento de mais de 50% em dois anos. As versões de híbridos plug-in (PHEV) também avançaram significativamente, passando de 5,2% para 7,3%. Estes modelos se destacam principalmente em SUVs de luxo, onde combinam autonomia estendida e performance elevada.
Os híbridos leves e convencionais (HEV/HEV Flex) mantêm uma presença sólida, passando de 11,1% para 11,8% do total. Ainda que não sejam realmente veículos conectados à rede elétrica, isso é considerado, na análise da Bright, essencial para a massificação da eletrificação com custos mais acessíveis.
Mudanças são necessárias
O avanço na oferta de versões eletrificadas confirma que a eletrificação “deixou de ser tendência futura para se tornar realidade de mercado”. Esse reposicionamento estratégico é impulsionado pela maior previsibilidade de programas governamentais, como o MOVER, e pela entrada de novos players no mercado, em especial marcas chinesas.
A Bright Consulting alerta que essa transição exige uma adaptação urgente de toda a cadeia automotiva:
- Concessionárias precisarão revisar processos de vendas e pós-venda, capacitando equipes para tecnologias mais complexas e novos modelos de negócio, como locação e assinatura;
- Sistemistas e fornecedores terão que acompanhar o ritmo, investindo em novos componentes e parcerias para atender à demanda por powertrains eletrificados;
- O governo deve fortalecer as políticas públicas de incentivo para consolidar o movimento e atrair novos investimentos.
“A indústria automotiva brasileira vive um momento de transição estratégica, em que a inovação, a sustentabilidade e a eficiência passam a ser tão relevantes quanto o volume de vendas,” concluiu Murilo Briganti, Chief Operating Officer da Bright Consulting. O mercado caminha para um equilíbrio entre tecnologia, custo e valor percebido.