
Semana passada, a Geely ofereceu a diversos jornalistas a oportunidade de dirigir seu novo lançamento no Brasil, o compacto EX2, num evento em São Paulo. Vou falar dessa breve experiência, deixando as necessárias ressalvas: 1) o modelo testado era o EX2 Max, que não concorre em preço com o BYD Dolphin; 2) a experiência inteira durou pouco mais de uma hora; 3) a central de mídia não estava configurada (então são várias funções que não tiveram como ser testadas). Um tempo assim não permite realmente escrever uma avaliação de um veículo, mas podemos falar de primeiras impressões.
Toda a cobertura sobre o EX2, inclusive a nossa, foi focada no preço agressivo da Geely para competir com o elétrico, de longe, mais popular do Brasil: o BYD Dolphin Mini. E ainda que eu não tenha tido a chance de testar esse, podemos fazer ainda assim algumas comparações (e o resultado é que ele era melhor que o Mini em todas as especificações, concorrendo mais com o Dolphin GS, o não minir.)
Carrinho com carinho
Vamos começar pelo visual: ele é um compacto mas não, como o concorrente, um subcompacto: mede 4,13 metros de comprimento e 1,8 m de largura, versus 3,78 m e 1,71m.. O visual de cada um segue uma escola de design diferente. Enquanto o concorrente busca um apelo tecnológico, com ângulos e recortes mais hi-tech, o EX2, com linhas redondas e uma carinha de Pokémon, é um carro do tipo que parece mais desenhado para ter carisma. Até a cor oferecida, um tom de verde pastel (chamado de pistache), contrasta com o verde berrante oferecido no competidor.
É EX é da escola de design dos carrinhos amados do público, como o Fiat 500, o Renault Twingo e, claro, o original: o VW Fusca. Basta olhar ele de frente para entender o que eu quero dizer:

Pessoalmente, eu sou fã de carrinhos carismáticos. Mas aí vai definitivamente do gosto de cada um.
Chamo de carrinho como uma expressão afetuosa. O EX2 também bate a concorrência em espaço, e passa a sensação de ser justo, mas não apertado. Ele tem um porta-malas generoso de 375 litros, e um frunk – que a Geely falou para todo mundo chamar de “frontamalas” – até que bem funcional, de mais 70 litros, com um espaço para compras leves. Ambos são abertos a partir do fob da chave, facilitando o trabalho de quem foi às compras e quer guardar as coisas sem precisar abrir a cabine.
Falando no que, ao entrar no carro, a primeira coisa que se nota é o estilo cockpit, com uma plataforma central separando o passageiro do motorista. Não é nem perceptível enquanto se dirige, mas quem me fez pensar em puritanos cortando o barato de casais num rolê motorizado (desculpe).
A decoração, em plástico, é apenas honesta. Pequenas ilustrações da skyline de uma cidade decoram toda a parte frontal. O que é bem temático para um carro de uso urbano e que possivelmente vai fazer sucesso entre os motoristas de aplicativo. É como a decoração de um café.

Música para os ouvidos do motorista
Pondo ele em movimento é uma questão de pisar no freio para desbloquear, e mexer a alavanca para o D. Essa ganha pontos de não ser um botão, mas não chega a ser realmente tátil, volta à posição quando você usa.
O carro tem a câmera 360, mostrando a si mesmo no estacionamento – uma bênção dos céus a quem não é muito bom de baliza (e não vou dizer se isso se aplica a mim…). Essa bonança é apenas para a versão Max.
Ao sair, se nota um ponto negativo, mas que não chega a ser um deal breaker: o carro possui um ruído artificial de partida, que é obrigatório pela legislação de alguns países (não o Brasil), e faz sentido existir: ele ajuda a pedestres com problemas de visão ou simplesmente distraídos a notarem o carro.
O som é como uma musiquinha meio mística, e não um ruído de nave espacial (ou até de motor a combustão) que outros fabricante usam. Não é uma música incômoda, mas é bem audível ao motorista. Mas é de se imaginar que não seja difícil se enjoar dela com o tempo.
Dirigindo você consegue até alguma emoção: o torque elétrico está lá, e vai ser notado principalmente para quem não está acostumado. Ainda que ele leve relativamente morosos 10,2 segundos para o 0 a 100, o 0 a 50 é em 3,9 s. Isso é uma agilidade felina que ajuda no trânsito da cidade, quando você atravessa uma rua, se junta ao tráfego, sai do sinal e várias outras situações em que essa agilidade felina de pequenos elétricos vem a calhar.
Fiz um teste do alce sem muitas pretensões, e o carrinho permaneceu firme no solo. Ajuda nisso a bateria no assoalho e não ser muito alto em relação ao comprimento.
Em termos de estrada, não houve como realmente testar nada além de pistas rápidas da Marginal Tietê, com trânsito – fez o serviço. Com 289 km pelo Inmetro, estrada não é exatamente a proposta mas (desculpe o paulistocentrismo nos exemplos) daria pra ir e voltar ao litoral próximo sem riscos.
O Geely EX2 vence o BYD Dolphin Mini?
Estamos chegando ao final desta avaliação, e, pensando bem, o pouco tempo que tive com o carro deve ser próximo da experiência do consumidor, que vai ter apenas seu test drive.
Vou deixar o racional de lado e falar como consumidor. Desejo às vezes é sonhar, mas às vezes é ter o pé no chão.
Vivo o paradoxo da maioria dos jornalistas automotivos: o de conhecer o paraíso mas viver na terra. Carrões estão acima de meus meios (segredo da indústria: jornalista que não é celebridade não ganha bem). Assim, do ponto de vista de uma pessoa na classe B (em alguns meses, C), posso dizer que o carrinho atiçou um comichão consumista. Deu vontade de comprar.
Se seria mesmo uma boa compra ou uma compra de impulso, só tendo tempo para avaliar pra valer. Mas o EX2 causou uma ótima primeira impressão.
Em relação a seu concorrente, objetivamente vence em quase tudo, mas não está em outra galáxia: é também um modelo de entrada, e o estilo pode não ser para todo mundo. Mas, com o EX2 saindo por R$ 119.990 e o Dolphin a R$ 118.990 (para o público em geral), a matemática está a favor da Geely. Memo com o preço nominal R$ 123.800 ainda parece um bom negócio. A versão Max (lembrando que foi a que testei), a R$ 136.800, já leva a pensar uma segunda vez.
A conclusão minha é que o EX2 é um sério candidato para disputar o cinturão de elétrico mais popular do Brasil com o Dolphin Mini. Ao menos até a BYD fazer sua próxima jogada.